Sétima arte é sinônimo de cultura e esperança a mulheres em situação de prisão na Capital

“A gente se vê nessas histórias, reflete e muda pensamentos”. A frase, dita por uma das internas do EPFRSAAA-CG (Estabelecimento Penal Feminino de Regime Semiaberto, Aberto e Assistência ao Albergado de Campo Grande) resume o impacto do ‘Conversas com Cinema’ em muitas mulheres, levando a arte cinematográfica para dentro dos muros do presídio.

Mais do que uma sessão de filmes, a iniciativa promove acolhimento, reflexão e oportunidades para mulheres que cumprem pena. Criado pela produtora cultural Geiciane Feitosa e por Lukas do Nascimento, o projeto nasceu de uma experiência universitária e, hoje, transforma o cotidiano de dezenas de mulheres privadas de liberdade.

Iniciado em janeiro, o projeto está previsto para ser concluído neste mês de fevereiro e é financiado pelo Governo do Estado, por meio da Setesc (Secretaria de Estado e Turismo, Esporte e Cultura, e da Fundação de Cultura), com base na Lei Paulo Gustavo. A ação também foi realizada no ano passado com financiamento municipal.

A ideia do ‘Conversas com Cinema’ surgiu durante a graduação de Geiciane em Cinema e Audiovisual na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Como estagiária voluntária no projeto de extensão ‘O Cinema e o Audiovisual na Cidade: Preservação e Educação Para as Imagens e Sons’, coordenado pela professora Daniela Giovana Siqueira, ela acompanhou exibições de no sistema prisional.

Foi o contato com as detentas que despertou nela o desejo de aprofundar essa ação. “Vi como elas se envolviam com as histórias e percebi o potencial do cinema como ferramenta de ressocialização”, conta Geiciane.

O projeto se tornou seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) e, com o apoio do colega Lukas Nascimento, foi inscrito na Lei Paulo Gustavo Estadual, garantindo recursos para sua realização. O financiamento, oriundo do Governo de Mato Grosso do Sul e do Ministério da Cultura, possibilitou a compra de equipamentos, alimentação para as sessões e a contratação de profissionais para dialogar com as internas.

“Queríamos que fosse uma experiência completa, que envolvesse aprendizado, troca e, acima de tudo, um olhar mais humano para essas mulheres”, afirma a idealizadora.

Sessões que tocam vidas

O ‘Conversas com Cinema’ funciona como um cineclube, priorizando produções do cinema nacional que possam dialogar com as experiências das internas. Após as exibições, acontecem debates onde elas compartilham suas impressões e fazem conexões com suas próprias vivências.

“Nosso objetivo é criar um ambiente sensível e compreensivo, onde elas possam falar livremente, se expressar e sentir que fazem parte de algo”, explica a cineasta.

Este ano, já foram exibidos filmes como Sai da Frente (1952), Dona Lurdes – O Filme (2024) e Rio, Zona Norte (1957). A escolha das obras é adaptável, levando em consideração a recepção e os interesses das participantes. “Precisamos ouvi-las e observar suas reações para que possamos selecionar os filmes que mais fazem sentido para elas”, diz a coordenadora.

Cada interna que participa das atividades culturais recebe remição de um dia na pena a cada 12 horas envolvida na atividade, o que significa um dia a menos na sentença.

Mas o impacto vai muito além da redução da pena, proporciona uma nova perspectiva para o futuro. Os depoimentos das reeducandas mostram o impacto emocional da iniciativa. “É muito importante para a gente, pois o tempo passa e aprendemos diversas coisas”, revela uma participante. “Eu espero chegar do trabalho para começarem a sessão!”, complementa outra.

Segundo a coordenadora do cineclube, é evidente que reflete também no pós-prisão. “Uma ex-interna nos encontrou e disse que sente falta das sessões, que participava de todas, e as policiais dizem que as internas ficam ansiosas, sempre perguntando quando será a próxima sessão”, comenta.

Um futuro além das telas

Diante do sucesso da iniciativa, os organizadores sonham em expandi-lo para outros espaços de vulnerabilidade social. “Nosso desejo é que mais mulheres tenham essa oportunidade. O cinema transforma, ensina e pode ser o primeiro passo para uma nova caminhada”, reflete Geiciane.

Dessa forma, com histórias que inspiram e emocionam, o ‘Conversas com Cinema’ busca demonstrar na prática que a cultura tem o poder de ressignificar vidas – e que dentro de cada interna há um universo de possibilidades esperando para ser redescoberto.

O cineclube também se soma a outras iniciativas educacionais do presídio, como remição de pena por leitura, palestras e rodas de conversa com psicólogos.

Comunicação Agepen

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