Pesquisadores identificaram uma nova espécie de cobra-papagaio no Cerrado brasileiro, ampliando o conhecimento sobre a fauna deste bioma, um dos mais ameaçados do país. Batizada de Leptophis mystacinus, a serpente foi descrita por especialistas do Mapinguari, Laboratório de Biogeografia e História Natural de Anfíbios e Répteis, vinculado ao Instituto de Biociências (Inbio) da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul).
A Leptophis mystacinus se destaca por suas cores vibrantes, apresentando duas faixas verdes dorsolaterais separadas por uma linha vertebral amarelada. O nome da espécie faz referência à faixa preta que cruza seus olhos e se estende pela cabeça e corpo, lembrando um “bigode”, o que a diferencia de outras cobras-papagaio.
A descoberta foi conduzida pelo professor Diego Santana, coordenador do Mapinguari, em colaboração com o professor Nelson Rufino, especialista na família das cobras-papagaio. Segundo Santana, a pesquisa teve início em 2023, quando Rufino relatou a existência de uma serpente do Cerrado ainda não descrita. A partir dessa informação, análises genéticas foram realizadas, confirmando tratar-se de uma nova espécie.
Além das características visuais marcantes, a nova serpente apresenta diferenças morfológicas no hemipênis (órgão copulador masculino), com estruturas únicas que a distinguem de outras espécies do gênero Leptophis.
Os pesquisadores também destacaram sua relação evolutiva com a Leptophis dibernardoi, encontrada na Caatinga, ressaltando que os dois biomas compartilham características ecológicas e evolutivas. Santana explica que esse estudo contribui para uma melhor compreensão da distribuição e diversificação das serpentes brasileiras.
Com hábitos diurnos e arborícolas, as cobras-papagaio são predadoras ágeis de pequenos vertebrados. Embora compartilhem comportamentos comuns, a Leptophis mystacinus se destaca por sua aparência singular, reforçando a importância da conservação do Cerrado e suas espécies pouco conhecidas.
A descoberta reforça o trabalho contínuo do Mapinguari, que já contribuiu para a descrição de várias novas espécies de répteis e anfíbios nos últimos anos. “Cada nova espécie descrita nos ajuda a compreender melhor a complexa história natural do Brasil”, afirma Santana, alertando que ainda há muito a ser explorado no Cerrado, um bioma de grande riqueza biológica.